Entrevista | Daniel Fassa | daniel@cidadenova.org.br
Por uma cultura do diálogo
Vera Araújo
Formada em direito, teologia e sociologia
A beleza
do pluralismo
SOCIEDADE Vera Araújo dedicou a maior parte dos seus 79 anos à
construção do diálogo entre diversos povos, culturas e discursos científicos
VERÔNICA ANA RAMOS DE ARAÚJO era uma jo
vem idealista. Penúltima dos nove filhos de uma
tradicional família católica de Camaragibe (PE),
vilarejo da região metropolitana do Recife, ela
havia encontrado no marxismo as respostas para
os problemas sociais que queria ajudar a resolver.
Aos 19 anos, quando cursava o primeiro ano da
faculdade de direito, já trabalhava voluntaria
mente prestando assistência jurídica a pescadores
e prostitutas, e tinha a vida toda planejada: se
especializaria na área trabalhista e dedicaria sua
vida à defesa dos excluídos, na universidade e na
política. Não imaginava que, um ano depois, em
novembro 1958, “cairia do cavalo”.
Um irmão padre, que havia voltado “diferen
te” após um período de sete anos de estudos na
Itália, lhe falou sobre um tal Movimento dos Fo
colares e lhe apresentou a três missionários (co
nhecidos como focolarinos e focolarinas) que,
pela primeira vez, traziam ao Brasil a espiritua
lidade de Chiara Lubich. Um pouco a contra-
gosto – pois precisava estudar e não estava muito
interessada no universo religioso – foi conhecê
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Cidade Nova | Janeiro 2018
-los em Apipucos, vilarejo onde se encontravam.
Ali teve uma conversa com uma focolarina cha
mada Lia, que mudaria sua vida. “Foi chocante
encontrar uma pessoa que falava do Evangelho
de uma maneira atual, existencial, encarnada
na vida dela e da sociedade de hoje”, conta Vera,
apelido dado pela família e confirmado pela fun
dadora como “nome novo”. Nesta entrevista, ela
fala sobre as consequências desse encontro mar
cante, que fez dela uma das principais referências
do Movimento no Brasil e no mundo, atuando na
formação de várias gerações de membros de todas
as idades e na criação de um grupo de pesquisa
intitulado Social One, que trabalha com a catego
ria de amor ágape na sociologia, em diálogo com
intelectuais importantes na contemporaneidade,
como o alemão Axel Honneth, o francês Luc Bol
tanski e o brasileiro Paulo Henrique Martins.
Poderia falar um pouco sobre seu encontro
com o Movimento dos Focolares?
Eu tinha minha vida bem planejada. Então
[após a conversa com Lia] eu passei uma noite